terça-feira, 18 de março de 2008

OQUE ELES ACHAM DA MULHER QUE TRANSA NO 1o ENCONTRO?


Cinco mulheres que foram para a cama no primeiro encontro comentam a experiência e mostram que, quanto mais conectadas ao próprio desejo, menos se preocupam com o que os outros vão pensar. Seus parceiros também não vêem motivo para adiar a transa quando os dois querem.

Para um homem, querer sexo no primeiro encontro é considerado 'natural' e, conseguir, uma façanha socialmente valorizada. Para uma mulher, ainda é um risco. Se ela vai para cama com quem quer, na hora em que bem entender, pode ser considerada 'fácil' ou alguém que 'não se valoriza' – assim, o valor social da mulher pode ser abalado em função de seu comportamento sexual. 'O melhor critério para decidir a hora de fazer sexo com alguém é o tesão', garante a psicanalista e sexóloga Regina Navarro Lins**. Na sua opinião, a mulher que vai para a cama no primeiro encontro está buscando espontaneidade em relação ao próprio desejo. Para Regina, quem deixa de fazer o que quer, temendo o que os outros vão pensar, sofre de falta de autonomia. 'Acho importante a mulher descobrir o que quer do sexo. Se ela vai para a cama com a expectativa de que o parceiro vai se tornar o grande amor da sua vida, corre o risco de se decepcionar. Ou de ficar inventando amor onde não tem.' Otimista, Regina acredita que as mudanças de mentalidade que começaram no meio do século 20 são lentas, mas irreversíveis. Atualmente, nem os homens acreditam que devem mostrar-se sempre disponíveis para o sexo, para provar virilidade, nem as mulheres estão dispostas a dissimular seus desejos. 'Cada vez mais, elas acham ridículos os homens que desvalorizam uma mulher quando ela demonstra querer sexo, mesmo sem estar dentro de algum relacionamento.' Regina prevê um tempo de maior parceria entre homens e mulheres, com trocas mais sinceras, sem ninguém ter que se reprimir, nem fingir força ou fragilidade para conquistar o outro.

PAULO E CAROL SE ESBARRARAM NA SAÍDA DE UMA DANCETERIA. A NOITE TERMINOU NA CASA DELE E O CASAL NAMORA HÁ QUATRO ANOS


PAULO E CAROL
As pessoas sempre se perguntam o que o cara vai achar da mulher quando ela transa com ele na primeira noite. E nós, o que achamos deles? Conheci o Paulo na saída de uma festa, em uma danceteria, e transamos logo depois. Achei que ele era um safado que comia uma por noite. Mas, como não estava esperando nada, tudo bem. Não imaginei que ele fosse me ligar no dia seguinte. Nunca vinculei sexo a amor. E acho triste que, depois de anos da tal libertação feminina, as mulheres continuem se colocando nessa posição de 'esposa'. Acho que sexo tem de ser na hora em que dá vontade. O tempo não pode ser determinado. Às vezes você resolve esperar um mês, chega na hora e é uma droga. Você cria muita expectativa, fica tão nervosa. Naquela noite, eu tinha comprado um vestido novo, lindo. Quando saí da festa, dei de cara com o Paulo, ele veio atrás. Tudo aconteceu rapidamente. Só lembro da amiga que estava comigo dizendo que eu era louca. Sempre tive namoros longos. Mas, quando conheci o Paulo, estava numa fase de 'vou traçar todos'. Não pensei em nada. No dia seguinte, tomei o maior susto quando ele me ligou. Aí pensei em fugir. Não queria me envolver. Mas a coisa sempre acontece quando você menos espera. Deu no que deu: nossa história já tem quatro anos.'

Carolina Lima, 24 anos, atriz

Eu e a Carol não levamos duas horas, do momento em que nos conhecemos, até a cama. No dia seguinte, eu queria bis. Nunca achei que mulher que gosta de sexo não presta. Se está com vontade de transar na primeira noite, por que segurar? Eu estava chegando na danceteria quando vi aquela gata saindo. Passei qualquer cantada boba e trocamos telefones para tomar um café depois. Mas na hora de entrar na festa, voltei atrás e perguntei se o café não podia ser naquela hora mesmo. Ela disse que tinha de levar uma amiga em casa. Fui junto. Depois que deixamos a amiga, já era tarde, estava tudo fechado, achei que a gente podia tomar café na minha casa. Ficamos batendo papo. Ela me falou que era atriz, eu também sou ator. Percebemos que tínhamos muita coisa em comum. Começamos a dar uns beijos e o bicho pegou. Ela saiu da minha casa às 8h da manhã. Quando deu 11h, liguei: 'Acorda e vamos almoçar'. Voltamos para o meu apartamento e continuamos de onde tínhamos parado. Claro que a transa da noite anterior foi fundamental para me fazer telefonar para ela. Mas não foi só isso. Na verdade, eu nem sabia o que ia rolar. Mas para mim não era uma caça. Gostei do estilo. Achei que ela era uma gata. A gente se conheceu em 16 de dezembro, depois ela foi passar o Natal com os avós. No dia 31, eu estava na estrada, quando ela me telefonou e perguntou se dava pra gente se ver. Voltei na hora do Guarujá para São Paulo. Peguei a Carol, passamos na casa dos pais dela e fomos para a praia com toda a família dela. Em seguida, nós dois fomos viajar juntos... e assim estamos até hoje.'

Paulo Greca, 38 anos, ator

ENZO*** E CRIS*** SE CONHECERAM PELA INTERNET E TRANSARAM NA NOITE EM QUE SE VIRAM. O CASAL ESTÁ JUNTO HÁ OITO MESES

Depois de uns dez dias teclando e falando com Enzo por telefone, fui conhecê-lo ao vivo. Estava decidida a não dar logo de cara. Na noite anterior, eu tinha transado, no primeiro encontro, com outro sujeito que também conheci na internet. Além disso, desconfiava que Enzo fosse gordo, baixinho e careca. Combinamos de ir jantar. Ele veio me pegar e já gostei. Nosso papo foi bom, fomos os últimos a sair do restaurante. Como era segunda-feira e não tinha mais nada aberto, Enzo me convidou para continuar a conversa no apartamento dele. Até aí, só tinha rolado um beijo na testa e um selinho na boca, meio sem querer, pelo qual ele até pediu desculpas. Mas lembro que, no meio da conversa, Enzo falou sobre um tal 'manual de regras e procedimentos' que as mulheres costumam pôr à frente de suas vontades e sentimentos. Aceitei ir para o apartamento dele e não segui o manual nem por cinco minutos. Chegamos, ele ligou o som e, em seguida, já estávamos na cama. Depois, menti: disse que nunca tinha transado com um cara tão rapidamente, que ele era o meu primeiro homem depois de um namorado de três anos. Às 5h da manhã, ele me deixou em casa e ficou de ligar. Só Deus sabia se era verdade. Logo cedo Enzo ligou e marcou de passar em casa depois de um jantar de negócios. Nesse dia, não transamos, porque tenho duas filhas pequenas que estavam em casa. Começamos a nos ver todos os dias. Em geral, eu ia para a casa dele. Mas um dia minhas filhas me perguntaram sobre ele, eu contei, e Enzo passou a dormir toda noite lá em casa. Estávamos praticamente morando juntos há uns quatro meses quando um dia, antes de ele sair numa viagem de negócios, tivemos uma briga. Nem lembro direito o motivo, mas sei que, no meio da conversa, ele disse que eu era muito certinha. Então, peguei a minha agenda e mostrei tudo o que eu tinha anotado sobre minha vida sexual nos últimos tempos: todos os caras com quem tinha transado recentemente – a maioria deles, no primeiro encontro. Tivemos uma conversa que salvou nosso relacionamento, tudo melhorou depois que me abri com ele. Eu nunca fui santa, mas às vezes acho que criava essa impressão. Já fingi que seguia o tal 'manual de procedimentos' porque não é todo homem que é como o Enzo.'

Cris, 41 anos, empresária

Normalmente, as mulheres deixam de lado a paixão, a vontade de transar, para seguir um 'manual de procedimentos': não pode ter sexo na primeira noite, não pode mostrar que sente desejo, não pode fazer isso e aquilo na cama. São todas santas. Não tenho tesão por santa, prefiro ler um bom livro a ir para a cama com uma. Quando fui conhecer a Cris pessoalmente, sabia que ela ia puxar o manual em algum momento. Tudo bem, eu também estava me fazendo de santo. Não contei que, naquele mesmo dia, já tinha transado com uma outra mulher que eu também tinha conhecido na internet. Só bem depois fui saber que com a Cris tinha acontecido uma coisa parecida. Com a outra mulher que transei, não quis mais nada. Com a Cris, foi diferente, porque ela era alguém com quem eu podia conversar, dar risada. Eu já tinha gostado dela nos nossos papos por telefone. Então, não é o fato de uma mulher transar ou não no primeiro encontro que faz eu querer ou não um relacionamento com ela. É o que acontece além do sexo. Assim como também acho que galinhagem não é transar quando se está com vontade. Galinha é quem não é capaz de fazer projetos com o outro, sempre tem medo de se envolver. E isso vale para homem e mulher. Eu e a Cris nos envolvemos. Um tempo depois brigamos. Quando ela abriu o jogo e vi que não era santa, fiquei aliviado. Não senti ciúme, porque ciúme do passado é insegurança. Depois dessa briga, fui viajar e passei mais de um mês fora. Três dias depois que eu tinha voltado, as meninas viajaram. Cheguei na nossa casa e, no hall, ouvi uma música dos anos 60 que adoro. Quando Cris abriu a porta, a casa estava cheia de velas e flores. Antes que desse tempo de pensar, já tinha roupa espalhada para tudo quanto é lado. Foi a nossa primeira transa depois da briga e das revelações dela. No dia seguinte, eu queria fotografar a sala. Seria um ótimo retrato do nosso recomeço. Agora do jeito certo: um sabendo quem é o outro.'

Enzo, 47 anos, empresário


HÁ SEIS MESES, TATIANA E RICARDO ESTÃO NAMORANDO. ELE A CHAMOU PARA ASSISTIR A UM FILME NA SUA CASA. ELA ACEITOU E, DEPOIS DA SESSÃO, NÃO QUIS IR EMBORA


TATIANA E RICARDO
Quando o Ricardo me convidou para ver DVD na casa dele, achei que era o maior aplique. Nós tínhamos combinado, por telefone, de ir ao cinema, quando ele mudou o programa. Era o nosso primeiro encontro. A gente tinha se visto antes, em uma exposição de arte, gostei dele e pedi para minha amiga, que estava fazendo divulgação de uma festa, para lhe entregar um flyer. Duas semanas depois, ele apareceu na tal festa e trocamos telefones. Achei que ele tinha uma segunda intenção, me convidando para a casa dele. Só que ele ficou supercomportado, um cavalheiro mesmo. No meio do filme, eu já cheguei mais perto, ficamos juntos, e eu gostei do beijo dele. Mas, quando o filme acabou, ele disse que iria me levar para casa. Ou eu dizia que tudo bem, ou dava outra opção. No filme que tínhamos visto, à 1h da manhã acontecia um assassinato. Era 1h30, então eu brinquei: 'Acho que não é uma boa hora para a gente ir embora'. Estava supergostoso, essa história de não poder transar no primeiro encontro não tem nada a ver. A gente deixou rolar e aconteceu. Em seguida, o Ricardo pegou um anel que tinha trazido do Marrocos e colocou no meu dedo. Depois de umas três vezes que saímos, ele me disse que precisava terminar com uma outra história que ele tinha. Estamos juntos há seis meses. Eu sou romântica. O meu objetivo é sempre uma ligação afetiva. Mas não tenho preconceito nem achei que ele não ligaria no dia seguinte pelo fato de a gente ter dormido junto. Acho que esse tabu já foi dissolvido. O mais importante para eu decidir se vou transar ou não é a atitude do cara comigo.'

Tatiana Tavares, 22 anos, consultora cultural

Os namoros mais duradouros da minha vida começaram com uma transa na primeira noite. Não sei se é coincidência, acho que é mais uma questão de circunstância. De repente, o momento está propício. Você bebeu um pouquinho, pintou a atração, não tinha nenhum compromisso naquela hora, nada que impedisse. Eu sempre achei absolutamente normal. Mas respeito a decisão da mulher. Naquela noite, a Tatiana deu o sinal de que tudo bem. Acho que nossa história teria continuado de qualquer jeito. Se transei com ela é porque já estava com vontade, mas esperaria mais, se fosse o caso. Só que quando a garota enrola demais, se estou muito a fim, posso agüentar um pouco. Se não, eu acabo desencanando. O cara que acha que a mulher não presta porque transou com ele na primeira noite é reacionário. Hoje a mulher está no mesmo patamar que o homem em tudo, no trabalho, na família, por que ela tem de ser diferente dele nessa hora?'

Ricardo Vivona, 40, diretor de arte

DENISE*** TEVE MEDO DE TRANSAR COM JEAN*** NA NOITE DO PRIMEIRO ENCONTRO, QUANDO DORMIU COM ELE. NA MANHÃ DO DIA SEGUINTE, NÃO RESISTIU. ELES SE CASARAM EM JUNHO DESTE ANO

Em 1999, eu fui para Paris encontrar um namorado, mas, quando cheguei lá, ele estava com outra. Fiquei um tempo morando com uma amiga que também tinha tomado um fora. As duas querendo sair para esquecer. Numa dessas, ela marcou com uns amigos em um barzinho e foi assim que conheci o Jean. Ele parecia sério, seguro de si, mais velho. Às 2h da manhã o bar fechou e a turma toda foi para a casa do Jean, mas nessa noite só conversamos. Na semana seguinte, minha amiga deu uma festa no apartamento dela e dessa vez eu e ele 'ficamos'. No fim da festa, minha amiga estava com um cara, e eu não tinha onde dormir [o apartamento era um estúdio, sem divisórias]. O Jean me convidou para ir para a casa dele. Fui, mas não pretendia transar. Eu não transei de noite... mas transei de manhã. Tive medo de passar uma imagem de 'brasileira fácil', aquela coisa de samba e Carnaval. Achei que nosso caso ia durar pouco, mas casamos em junho deste ano. Na França, transar logo de cara é normal, porque lá não existe essa cultura do 'ficar'. Se você dá um beijo, é porque pretende ir para a cama. Aqui no Brasil, eu ficava muito, mas só transava com namorado. Se fosse transar com cada um que eu fiquei, ia pegar mal. Não que eu ache que transar logo seja um problema, mas tenho muita amiga que acha. Eu fiz duas faculdades. Na de Ciências Sociais, era mais comum rolar coisas desse tipo. Na faculdade de Letras, tive amiga que casou virgem.'

Denise, 27 anos, professora universitária

Eu transei na primeira noite com a maioria das minhas namoradas. Na França, isso é comum. Entre os meus amigos nem é mais uma questão. É claro que qualquer um pode querer esperar um pouco mais, porque não está seguro se quer transar, mas aí você nem beija. Sai para jantar, vai ao cinema, pode ficar fazendo isso por seis meses. Mas, se beijou, é porque vai transar. Para mim, não tem essa história de que transar logo quebra o encanto. Encanto é questão de personalidade. Mas eu acho que a primeira transa não define tudo. O amor se constrói aos poucos.'

Jean, 31 anos, vendedor de seguros

PILAR E PIN SE CONHECIAM DE VISTA E SE REENCONTRARAM NA CASA DE UMA AMIGA. ELA TOMOU A INICIATIVA. MORAM JUNTOS HÁ UM ANO


PILAR E PIN
Fora os namoros de adolescência, não me lembro de nenhum que não tenha começado com uma transa no primeiro encontro. Em geral, tomo a iniciativa. Com o Pin não foi diferente. Eu o conhecia de vista, mas nós éramos casados. Aí eu me separei, ele também. A gente se reencontrou na casa de uma amiga comum. Eu tinha cortado o cabelo e ele disse: 'Você está maravilhosa!'. Eu, que nunca tinha reparado nele, pensei: 'Quem é esse cara mesmo?'. Aí armei: liguei para ele e uma amiga convidando para um passeio com as crianças, porque todos nós temos filhos. Depois fomos almoçar em casa. À noite, os amigos foram embora, foi ficando tarde, eu disse que ele podia dormir lá... Isso já faz dois anos, um ano depois ele e o filho se mudaram para minha casa. Acho que se você gosta de fazer sexo, faz. As pessoas às vezes não transam com medo do que os outros vão pensar, ou então é trava mesmo. Outro dia li numa pesquisa que só 30% das mulheres atingem o orgasmo. Se a fulana nem tem prazer, por que vai ficar transando? Também existe o medo de se expor e depois o cara sair fora. É um risco, mas não dá para dizer: 'Ele me usou e foi embora'. Isso seria desconsiderar o prazer da mulher. Afinal, a gente também se diverte.'

Pilar de Castro, 31 anos, bióloga

Quando Pilar me ligou, aceitei na hora. Sou tímido, demoraria mais para tomar a iniciativa. Como eu já tinha a intenção de namorá-la, achei que deveria ter um ritual mais elaborado. Pensei que ela podia interpretar qualquer avanço como um sinal de que eu só queria sexo. Tudo partiu dela, fui aceitando. Foi diferente, mas não deixou de ser romântico. Acho que condenar a mulher que transa na primeira vez faz parte da mesma cultura que diz que o homem deve ser vangloriado quando leva a garota para a cama. Nem sempre me senti confortável de transar no primeiro encontro com uma mulher. Na maioria das vezes, estava procurando uma namorada e, antes de transar, queria ter certeza de que ela também estava interessada em mim.'

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©2007 '' Por Elke di Barros